Como é possível se auto-escutar, se não silenciarmos o
nosso interior? É impossível voltar-mos para dentro sem este exercício.
Mergulhar em si mesmo e conectar-se com um estado de verdadeira paz.
Talvez tudo o que precisemos para entrar neste estado de quietude
interior, é nós retirar das queixas, das cobranças diárias, dos sentimentos de
culpa, da agitação… Só saindo um pouco desta rotina, que nos deixa
acomodados num estado de satisfação, ou de constante lamento, é que
acharemos o essencial dentro de nós mesmo.
Ambiente de Paz e Prosperidade.
Vivemos um momento em que as
pessoas deixam sua pátria procurando abrigo em outra, por isso chamamos de
refugiados, pois tudo que eles querem é se refugiar daquilo que os
seus países de origem não hes deram. Entretanto, existem pessoas que não
perderam seu lar exterior (pátria ou casa), mas perderam o lar interior, ou
então perderam os dois. Sendo assim, é comum sentir-se sem sentimento de
acolhimento, sem proteção e, perdido de si mesmo. Se queremos experimentar um
ambiente de tranquilidade, antes, isso precisa ser um estado de espírito, dando
um passo de cada vez conhecendo-se um pouco a cada dia de modo crescente.
Uma Mente Silenciosa
O caminho do auto conhecimento não
é um caminho de perfeição, mas de aprimoramento, sim, nos permite refletir e ir
nos melhorando aqui e ali, como seres humanos. Desta maneira estaremos
permitindo-nos reinventar o olhar sobre nós mesmos e sobre o mundo que nos
rodeia. Uma mente silenciosa é aquela que sai desta correria louca. Aliás, essa
vida corrida lembra-me aquele coelho da obra de Lewis Carol, que se
tornou filme, Alice no país das maravilhas. Uma obra assim deveria ser lida e
relida algumas vezes, pois entenderíamos melhor os dias que vivemos. O coelho sempre está correndo com um relógio na mão
dizendo em tom de murmuração: “Estou atrasado.
Caminho que nos leva a
nós mesmos
Ultimamente, nós não temos
tempo para muita coisa, desta forma corremos contra o tempo se quisermos
crescer, até tem um dito popular: “Deus ajuda, quem cedo madruga”. Então, nos
deparamos com pessoas sonolentas nos meios de transportes, aspectos cansados e
numa automação, de modo que nem se percebe no agora, funcionando como robôs
programados vivendo e repetindo um mesmo roteiro: Acordar, café da
manhã, trabalho, faculdade, etc. Por
mencionar Alice, como não lembrar daquele gato, que mesmo tendo
corpo, desaparece e reaparece, às vezes só a cabeça, em outro momento só
a cauda e ainda só o sorriso. Alice um pouco desorientada se depara com o gato
e pergunta: “Para onde vai a estrada?” O gato prontamente responde com
uma pergunta: “Para onde quer ir?” Ela não sabia para onde ir, estava perdida.
O gato responde imediatamente: “Para quem não sabe para onde vai, qualquer
caminho serve…”.
Até parece que essa história
se repete em nossos dias. Afinal como saber, se não encontramos
tempo, para nos encontrar o caminho que nos leva a nós mesmos? O
resultado é que vivemos uma época de sufocamento por uma ansiedade de ler tudo
e sem nenhum critério seletivo, acessamos redes sociais, incessantemente,
ouvimos constantemente, músicas com fones de ouvidos para não nos
depararmos com a solidão, assistimos quase que compulsivamente, séries
onde nos enxergamos e até nos realizamos nos personagens. No entanto, parece
que ao invés de navegar na internet estamos naufragando, submergidos em cada
clique.
Ouvir o Mundo Interior
Estamos tão deslocados de nós
mesmos que queremos nos encontrar naquilo que fazemos, mesmo às vezes fazendo
algo sem vontade alguma. Queremos na maioria das vezes sermos reconhecidos em
tudo e por todos, porém, temos medo da mudança, medo da insatisfação, medo de
não saber lidar com a velocidade das mudanças e somos consumidos, por vezes
dissolvidos, de modo que muitas vezes sumimos e nos encontramos de novo
em tudo, isso nos dá grande trabalho.
Realmente lidamos com a vida,
como se o tempo todo, a felicidade estivesse fora de nós, entretanto, foi
Goethe, quem disse que “o homem feliz é aquele que pode ligar o final de
sua vida ao seu início”, mas só conectaremos inicio, meio e fim, se estivermos
atentos aos sutis movimentos que acontecem em nós mesmos, ouvindo
silenciosamente.
Descobrindo o Verdadeiro
Ser
É mergulhando em nós que acharemos
tempo para não vivermos apressados, já diz a sabedoria popular: “Apressado,
come cru”. Sei que esperar não é algo do nosso agrado, até porque estamos todo
tempo e, o tempo todo, como o coelho querendo tudo para ontem.
Sendo assim uma consequência, a sensação de que a vida perdeu o sentido,
daí, passamos a cair num vazio existencial e não sabemos qual caminho seguir,
desta maneira escolhemos qualquer caminho para trilharmos e, quase
sempre, optamos pelo mais fácil.
Portanto, não criemos no mundo
virtual, um universo onde suprimos nossas faltas e carências, encenando
ser alguém que não somos, para obtermos uma autorrealização. Agindo
assim, não descobriremos nossa identidade e, tão pouco clarearemos o
caminho para desenvolvermos a possibilidade de descobrir-nos. Não é a partir de
comentários e curtidas que acharemos quem somos! Se queremos nos sentir
acolhidos, antes, é preciso acolher-nos! Então paremos de alimentar em
nós a necessidade de confirmação e de aprovação dos outros, para
percorrermos este ou aquele caminho. É preciso resolver com a própria
consciência o que é certo para nós e então seguir em frente, pois vive-se
apenas uma vez. Silenciosa(mente) encontramos a nós mesmos e descobrimos o
nosso verdadeiro ser.
Daniel Lima Gonçalves
Psicanalista, Filósofo e Teólogo.
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