Quem nunca ouviu aquele dito popular que diz: “quem cala
consente”. De fato, há silêncios que falam por nós e até decidem por nós, mas
também manifestam nossa omissão de modo que o não manifestar uma opinião
necessária, muitas vezes demonstra concordância com uma palavra, discurso ou
ação. Entretanto, existem silêncios que expressam inquietude interior,
tristeza, angústia e amargura, mas também existem silêncios que evidenciam serenidade
e reflexões internas, pois o silêncio parece ser uma boa maneira de ficar
quieto, mesmo que fora esteja um grande barulho. Sendo assim, é bom perceber o
que de fato e de verdade tem alimentado nossos pensamentos. Quer saber do que
sua mente está cheia? Fique atento ao que mais sai dos seus lábios.
A Porta da Felicidade Abre só
para o Exterior
É cada vez mais constante
ouvir pessoas dizerem que procuram um sentido pra viver ou que
buscam uma pessoa ideal, porém muitas vezes nem sabe o que procura. Que
busca é essa? O que de fato procuramos? Segurança, amor, status, independência…
O quê? Às vezes isso apenas expressa que ainda não nos encontramos, então, por
não encontrar-se, projetamos fora o que nos falta dentro. Parece que esse
imenso mercado que a felicidade se tornou, tirou de nós mesmos, pois ser feliz
é uma responsabilidade nossa. Levamos conosco o que está no mundo interior e
isso é refletido fora como se estivéssemos frente a um espelho, assim
passamos a perceber aquilo que nos habita. O filósofo e teólogo dinamarquês do
século XIX, Soren Kierkegaard, certa vez disse: “A porta da felicidade
abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la
ainda mais”. Forçar a porta da felicidade para dentro ou fechá-la é não se
arriscar, pois quem tem tal coisa dentro sí logo perceberá alegria fora,
na existência, no dia a dia. Contudo, para perceber, não basta silenciar
fora, mas dentro, pois apesar das tristezas que vivenciamos, existe em nós esta
potência (felicidade), que aqui e ali se eleva ou não, porém isso não nos
torna seres infelizes.
Apague o que Foi Ruim
Silêncios fora podem ser fuga, por
isso em momentos de crise parece que somos consumidos pelo desejo de ir para
uma ilha deserta, ou mesmo dormir e não acordar mais. Todavia, isso apenas
externa o desespero existente em nós, além do medo de ficarmos frente a frente
com dores do passado que de quando em quando se repetem. Aliás, o que mais se
propaga hoje é: “apague o que foi ruim”. Quem ou o quê disse que foi ruim?
Muitas vezes aquilo que hoje nos parece mau, amanhã perceberemos como foi bom
passar por tudo aquilo, apesar dos sofrimentos causados. Então, quando
vivenciamos situações que parecem nos remeter aos sofrimentos que um dia
vivemos, tudo o que queremos é sumir e não confrontar. Desta maneira,
vamos nos omitindo até que constataremos que a questão não é o que passamos
fora, mas sim o que está dentro, logo, silêncios fora nem sempre são boas
alternativas, pois não nos leva a compreender o todo da situação.
Corrida de Ratos
O silêncio por sua vez, acaba sendo
uma alternativa para quem tem a sensação de que sua vida se tornou uma espécie
de gangorra, uma hora está em cima e outra em baixo e isso somado às pressões e
dificuldades. Se não tivermos tempo para ficar a sós conosco, acabamos
numa corrida de ratos, corremos, corremos e não saímos do lugar. O tempo passa
e tudo se repete, cobrança, temor, cansaço, desequilíbrio, inquietude e uma
vida corrida. Cuidar da mente também é aquietar-se e nisso o silêncio nos
ajuda, pois pacificar o ser nada mais é do que estar no agora prestando atenção
no hoje, a fim de que cada instante seja de fato um presente.
Paremos de Nos Alimentar de Lixo
Este exercício de pacificar-se não
é fácil, ainda mais porque nos permitimos ser distraídos com as muitas coisas à
nossa volta: trabalho, preocupações, anseios e redes sociais. Como seria bom
que nos lembrássemos que além de um corpo temos uma alma, não somos robôs.
Portanto, comecemos pelas coisas pequenas estando mais atentos a nós mesmos, às
pessoas, o cotidiano e a natureza. Isso nos trará a maravilhosa sensação de estar
vivo. Alimentar a alma com bons livros e boas músicas ajudam bastante. Então,
paremos de nos alimentar de lixos, saiamos do senso comum, fiquemos um pouco
off-line de redes sociais, pois aquela famosa frase que Descartes publicou em
seu livro “O Discurso do Método”, em 1637: “Penso, logo existo”. Uma frase que
resumia o pensamento à existência, mas que atualmente, parece ter sido
substituída por: “Estou online, logo existo”. Desconectemos e nos
reconectemos a nós mesmos, a fim de que possamos nos conectar com o
mundo à nossa volta.
Daniel Lima Gonçalves
Psicanalista, Filósofo e Teólogo.
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