Fazer
silêncio fora é uma tarefa fácil, basta se retirar para um ambiente calmo.
Embora fora esteja em silêncio, dentro pode está um constante ruído de
pensamentos que vem e vão. Se não atentarmos para esse mundo que nos habita
jamais perceberemos o que projetamos fora, caminhando numa constante busca a
fim de preencher nossas faltas. Sendo assim, criamos grandes expectativas que
aqui e ali se transformam em repetitivas decepções intensificando ainda mais
velhas dores em novos momentos.
Iniciar
essa viagem para nosso interior é algo que demanda esforço e disciplina, pois
além de autoanálise se faz necessário escutar a si mesmo. Isso requer atenção
até mesmo para a maneira como enxergamos tudo a nossa volta, inclusive aquilo
que falamos dos outros, porque o que falamos deles tem muito mais a ver conosco
do que com eles de fato. O pior é que ao nosso redor muitas coisas cooperam
para não silenciarmos, de modo que muitos acreditam que pacificar-se e
aquietar-se não é algo possível, mas permita-me dizer: “Sim, é possível!”.
A
que ponto chegamos? O exercício de silenciar-nos internamente parece algo
impossível diante da velocidade das comunicações e essa insaciável necessidade
de obter informações a todo instante. As coisas simples já não nos satisfaz!
Perdemos o prazer de contemplar o pôr do sol, escutar pássaros cantando, tomar
um banho de chuva, etc. Até se fazer presente na vida de quem amamos tem sido substituído
por presentes. Então, consequentemente acabamos entrando num espiral de
angústia querendo o tempo todo atender as expectativas dos outros, desejando
ser alguém e não nós mesmos. Basta parar um pouco que logo perceberemos que
nossas maiores angústias não estão no agora, mas nas culpas por algo do passado
e na ansiedade de vivenciar algo no futuro, além do medo da calamidade,
imprevisibilidade e a perplexidade do existir.
Em
vias ferroviárias é comum nos depararmos com três palavras: pare, olhe e
escute. Talvez precisemos fazer isso parar um pouco esta correria diária, às
vezes nossas agendas estão cheias de compromissos porque não queremos nos
deparar com nossos vazios. Entretanto, parar sem se ver e sem escutar de nada
vale se não para quebrar a rotina, porém esse exercício nos leva de volta a
nossa essência, nos reconecta com o que de fato somos. Todavia, se esse
movimento for executado com cobranças para nada servirá, apenas nos manterá na
superfície, em cascas que até se parecem sólidas, mas são cascas, são frágeis.
Ocupemo-nos
com o agora sem antecipar nada, de modo que tenhamos pelo menos dois minutos
diário de silêncio para enxergar se tem algo conturbado dentro de nós. Este
estado de quietude não nos desgasta, mas nos resgata; não nos mantém
aprisionados a isto ou aquilo, antes nos liberta. Assim, somos conduzidos a nos
conhecer e até gostar de nós mesmos. Enquanto estivermos barulhentos dentro de
nós estaremos com a alma agonizando e amargurada. Portanto, é preciso enxergar
projetando luz nas áreas escuras do nosso ser, pois muitas vezes o problema não
está fora, mas dentro de nós de tal maneira que não adianta arrumar fora porque
a confusão está dentro. Fazer silêncio na mente é cuidar de si mesmo, por isso
façamos.
Daniel L. Gonçalves
Teólogo, Psicanalista e Filósofo
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